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5 de mar. de 2009

Histórias de um tropeiro

Aos 93 anos de idade, Martin de Souza, passa o dia sentado à frente de sua casa na esperança que algum dos passantes pare, e conceda-lhe alguns minutos de atenção.

Todos que passam na Av Obelisco já conhecem a figura, o velho tropeiro têm muita história para contar, são poucas pessoas que param para ouvi-las. Quem para, fica conhecendo uma pessoa de humor invejável que mesmo aos 93 anos, ainda tem esperança de encontrar uma nova esposa. Ele reclama da solidão, são instantes de melancolia que logo desaparecem com uma nova cantiga. Dono de repertório próprio, ele conta um causo, e depois canta. Faz críticas ao governo, aos tempos modernos, conta que ficou envergonhado ao assistir junto com a filha os desfiles de Carnaval na TV.

-Não entendo como é que os pais daquelas gurias, deixam eles saírem peladas no Carnaval!

A faca que ele carrega na cintura, não intimida mais. Nos últimos meses ele foi roubado quatro vezes.

-Uns guri - conta ele - roubam só por causa dessas droga, mas o que aqui se faz, aqui se paga. Eu nunca toquei em nada que não fosse meu. Só me arrependo duma coisa, mas eu já paguei por ela. Uma vez, quando eu trabalhava nas tropas, dei de relho num gaúcho que fez farra comigo. Fui castigado. Duas semanas depois levei um coice do meu próprio cavalo, que me deixou de cama um mês.

Seu Martin têm receitas para todas as doenças, uma delas é infalível, serve para dor nas costas, tosse, mau-olhado...

-Tu pega uma garrafa, enche d'água e coloca em cima do telhado na noite de São João. No outro dia tá pronto. Pode passar dez anos que essa água não vai apodrecer, depois é só usar.

Entre uma piada e um causo, uma cantiga e uma crítica, seu Martin vai levando a vida. Sem medo da morte, mas sem em nenhum momento tocar em assuntos relacionados a ela, deixa um pouco da sua alegria registrada no vídeo, e pede licença para dar um chegada no banheiro, que segundo ele, é uma das coisas mais importantes que o homem já inventou.

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