Os raros momentos de lucidez se intercalam entre os períodos de insanidade eufórica e um profundo silencio contemplativo, quando apenas os olhos de Pedro Óbregon Cassales, como ele se diz chamar, se movimentam olhando os campos que se perdem no horizonte das terras além Canguçu.
Nascido, segundo seu relato, em 1937 em Madri no auge da guerra espanhola, perdeu o pai aos dois anos de idade, na tomada de Barcelona pelas tropas franquistas. Sua mãe, que ele não revela o nome, passou daquele janeiro em diante, se revezando entre muitos afazeres, entre os quais o mais rendoso não era tão nobre assim. Falar da mãe o deixa muito nervoso, e aconselhado por um atendente do abrigo, mudamos de assunto.
Ele então nos fala do parque, onde ele, levado pelos irmãos, corria entre as arvores em direção ao lago, proibido de entrar nas águas se contentava em jogar pedrinhas somente para ver os círculos que se formavam na lamina d’água. Do parque ele lembra detalhes que só quem viveu realmente no local, poderia descrever. O Palácio de Cristal, a estatua do Rei Alfonso, o Palácio de Velázquez e a mais assustadora imagem, do Anjo Caído, estatua em homenagem a satanás. Mais um momento de euforia seguido por um silencio que durou duas horas. Ficamos ali, ao seu lado todo o tempo sem que ele nos dirigisse o olhar ou a palavra. Num repente, como se alguém o ligasse à tomada, lá está ele a falar do parque novamente, Parque do Retiro, o mais belo de Madri, uma obra do Rei Philips IV. Toda conversa repetida com os mesmos pontos e vírgulas, como se fosse decorada.
Avançamos um pouco mais, quando ele nos fala de sua vinda para o Brasil. Depois de sofrer humilhações em função das atividades não nobres de sua mãe, prostituta, que no bairro de Niño Jesus em Madri, oferecia seus préstimos aos patrões em troca de algumas pesetas, ele aceitou o convite de um tio e veio para o Brasil em 1949, logo depois da segunda guerra mundial. No Brasil, com 12 anos de idade, foi adotado por uma família de Piratini que se compadeceu de sua situação em Rio Grande, onde desembarcou com o tio que sumiu alguns dias depois. Da família ele não lembra, ou o faz questão de não lembrar. Sua vida recomeça dentro de uma olaria em Piratini, onde ele passou 56 anos abastecendo os fornos com tijolos e lenhas.
Há três anos no abrigo, ninguém sabe se seus relatos são verdadeiros, ou frutos de sua imaginação. Ao abrir o blog do Bendito, deparei-me com as fotos do Parque do Retiro em Madri, logo, veio-me a lembrança de Pedro e seu relato cheio de detalhes, sobre sua infância em Madri, que em pequenas doses descrevi para vocês. Ele mora em um abrigo para idosos logo adiante de Canguçu
Fotos de Madri-Diniss- http://www.benditosblog.blogspot.com/
2 comentários:
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